No treino de cães, continua a existir o mito de que o treino baseado em reforço positivo assenta exclusivamente no uso de comida para reforçar comportamentos! Basicamente, é afirmado, que com este tipo de treino, os cães ficam viciados em comida e apenas executam o que lhes é pedido se o petisco estiver disponível! Esta ideologia está completamente errada e não tem qualquer fundamento válido.
Treinar com técnicas de reforço positivo, é fazer uso das motivações do cão para reforçar comportamentos que queremos ver repetidos no futuro. É de salientar que todos os cães são diferentes, e o que pode ser um motivador para um cão, pode não o ser para outro. Neste sentido, a primeira missão de um treinador, é conseguir perceber o que é que motiva determinado cão, e com esta informação, entramos em modo de colaboração (treino). No treino animal, a essas motivações dá-mos o nome de recompensas.
O que é uma recompensa?
É algo que o cão deseje num determinado MOMENTO.
Que tipo de recompensas podemos usar no treino?
Isso faz parte da perspectiva do cão e não da nossa, como tal, temos que avaliar o cão que vamos treinar, mas de um modo geral, as recompensas podem ser: comida, brinquedos, passeios, interacção social, liberdade, atenção do tutor, oportunidade de ir nadar ou correr, entre outras.
É importante referir que todo o contexto envolvente a uma acção, pode atribuir ou retirar valor às recompensas habituais, isto é:
Para um cão faminto, a comida é uma recompensa de alto valor mas para um cão saciado, a comida perde valor.
Para um cão com energias acumuladas, correr atrás de uma bola é uma recompensa de alto valor, mas para um cão cansado deixa de o ser.
Um exemplo mais complexo:
Em casa, a atenção do tutor pode ser uma recompensa de alto valor para um cão, mas num parque cheio de estímulos, essa atenção deixa de ter valor, porque existem outras recompensas mais valiosas que o cão deseja, como por exemplo, ir brincar com outro cão ou ir cheirar uma árvore. Treinar neste tipo de ambiente, com inúmeros estímulos a atrair o focos do cão, pode ser complicado, e é precisamente nestes contextos, que devemos recorrer ao Princípio de Premack.
O Dr. David Premack chegou á conclusão de que, a frequência dos comportamentos de baixa probabilidade de acontecerem, podem ser incitados, se fizermos com que os comportamentos de alta probabilidade de acontecerem, fiquem dependentes dos primeiros. Por outras palavras, se comportamentos pouco prováveis de desempenhar (o que nós pedimos ao cão) forem seguidos por comportamentos muito prováveis de desempenhar (o que o cão quer fazer), os comportamentos pouco prováveis terão tendência em aumentar de frequência, fruto da consequência a eles associado.
Visto isto em termos práticos e usando o exemplo acima:
Num parque cheio de distracções, pedimos a atenção do cão (comportamento de baixa probabilidade de acontecer, pois este está mais interessado nos estímulos envolventes) e se este corresponder, reforçamos com o acesso para ir brincar com outro cão (comportamento de alta probabilidade de acontecer, pois era precisamente isso que o cão queria). Depois de várias repetições, o cão vai prontamente responder ao nosso pedido pois aprendeu que desta forma tem acesso ao que ele deseja.
Em modo conclusão, treinar com métodos de reforço positivo, pode ser interpretado como um "jogo" de motivação e colaboração, no qual ensinamos ao cão a ter acesso ao que ele quer, se primeiro nos der o que nós queremos.
Todos nós, já fomos confrontados com o Principio de Premack, e eu recordo-me dos velhos tempos, em que a minha mãe me dizia.
Se quiseres ir jogar futebol, primeiro tens que comer a sopa!
Eu passei a adorar SOPAS :)
Agora eu uso essa mesma filosofia com os meus cães.
BIG, se quiseres ir para a água, primeiro tens que me oferecer um senta!
O BIG passou a adorar sentar-se quando eu lhe peço.
Comments