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Cães e crianças

Recentemente tivemos mais um episódio trágico que envolveu uma criança e um cão, e como sempre, não temos acesso aos pormenores para saber exatamente o que se passou. No entanto, quando ocorrem acidentes desta magnitude, a sociedade em geral, procura determinar um culpado, e existem sempre 3 alvos: Os pais, a criança e o cão! Eu não culpo nenhuma destas partes! Culpo sim, a falta de informação, a falta de conhecimento e os mitos que circulam por aí!



Todos nos já ouvimos frases como: “A raça X é ideal para as crianças”; “os cães não atacam crianças porque não lhes reconhecem perigo”; “os cães adoram crianças”...... etc. Isto são tudo mitos que criam falsas expectativas nos seres humanos em relação aos cães. Temos que ter consciência que os cães também tem sentimentos, os cães podem sentir-se confortáveis ou desconfortáveis com determinado estímulo, e esse estímulo pode ser uma criança ou até mesmo um objeto qualquer. Já saíram vários estudos que comprovam os benefícios da relação entre cães e crianças, nomeadamente no combate a obesidade infantil; as crianças que lidam com cães tem menos tendência em viciar-se em videojogos; existe um impacto mais rápido no desenvolvimento social de uma criança quando existem cães no seio familiar; as crianças tornam-se mais responsáveis por lidar com cães... entre outros. De facto são mais valias, para o crescimento de uma criança mas isto só é possível se ensinarmos as crianças a respeitar os cães e se ensinarmos os cães a lidar com crianças. Numa relação entre cães e crianças temos que ter em consideração que as crianças são muito imprevisíveis e elas não conseguem ter noção do perigo. Por outro lado, os cães não falam a nossa língua, logo não percebem as intenções das crianças. Acho ridículo quando oiço adultos a dizerem que os cães são obrigados a aceitar tudo o que uma criança faz com eles! Eu pergunto-me porquê?


Desde cedo devemos ensinar as crianças a respeitar os cães e explicar-lhes que:

  • há cães que não se sentem confortáveis na presença de crianças

  • para nunca se aproximarem de um cão que está preso, ou que está a comer, ou que está com um brinquedo na boca

  • que não devem correr ou gritar quando estão perto de cães

  • que não devem perturbar um cão quando este está a dormir

  • que não devem puxar a cauda, as orelhas e outras parte do corpo animal

  • que não devem montar o cão como se fosse um cavalo

  • que não devem dar beijinho

Também devemos ensinar os cães (preferencialmente enquanto são cachorros) a:

  • serem manuseados por pessoas estranhas, inclusivamente crianças

  • não saltarem para cima das pessoas

  • criar um condicionamento clássico positivo para com crianças

  • brincarem adequadamente com as pessoas

Mesmo depois das dicas acima terem sido compreendidas por ambas as partes (cães e crianças) existe um pormenor que os adultos nunca devem esquecer! Independentemente da relação pacifica e tolerável do cão com crianças, é OBRIGATÓRIO existir SEMPRE uma supervisão ACTIVA enquanto uma criança está na presença de um cão. Todas as pessoas que lidam com cães deveriam aprender e compreender a linguagem comunicacional destes animais, desta forma poderiam detectar sinais de alarme e desconforto por parte do cão, e prontamente interferir para que a situação não escale para níveis problemáticos. Fazendo uma pesquisa pelo Google, podemos ver milhares de fotos com cães e crianças, e em grande parte delas podemos ver cães a apresentar sinais de stress. Estes pequenos sinais são alheios para a maioria da população, no entanto, são sinais comunicacionais que o cão apresenta para demonstrar o seu desconforto naquele preciso momento e contexto. Estes pequenos detalhes passam ao lado da sociedade em geral, e fruto dessa falta de informação, ouvimos frases como “Como é que foi possível, o cão nunca demonstrou maldade para com a criança”! A verdade é que se pudéssemos fazer uma retrospetiva, e ver imagens entre este cão e esta criança, tenho a certeza que iriamos encontrar sinais de stress por parte do cão. A foto deste artigo é um desses exemplos, no qual vemos um cão a apresentar sinais de stress e desconforto, tais como: “lip lick” (lamber os lábios), olho de baleia (ver-se o branco dos olhos, termo técnico é "whale eye"), olhar desviado da criança, boca fechada e tensa, cabeça e corpo do cão a procurar afastamento da criança e sobrancelhas franzidas. Para além disto o cão está com uma coleira de choque ao pescoço, o que demonstra que está a ser treinado com métodos que criam medo, intimidação e dor no cão, e este tipo de treino pode trazer desvantagens na relação entre cão e humanos. Quando os meus clientes me dizem “Patrick, eu tenho pleno confiança no meu cão”. A minha resposta nestas situações é “Então faça de tudo para nunca a perder”!

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